quinta-feira, 3 de março de 2011

Os Corvos

Os Corvos

Corvos buliçosos rasgam a pele
e a mortalha das presas
sem respostas às dúvidas
do ser e do não ser.

Ciscam nas condolências
gravadas em placas de ouro,
sugam a essência das flores
abertas sobre as pedras.

Distante estou do olhar dos corvos.
Astutos, calculam tempos gososos
antes da ceia.

Às gargalhadas,
bebem os vinhos mais caros,
molham finas bolachas
no café amargo.

Assustam as crianças chorosas;
são fantasmas vestidos de palhaços
no olhar dos vivos e mortos.

Ah, esses corvos indecentes!

Atrapalham a vida,
Desligam os faróis na passagem dos anjos,
apagam as cores, fecham as janelas,
espalham fezes no escuro das paisagens.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O Tempo

O tempo reforma a fala
entorta a alma no vazio
da sala.

No ar
velhas notícias estalam
em novas palavras.

o trem não passará.

Há lama nos trilhos;
os pés se queimam,
movimentam a rua.

O tempo é nave incendiada.
É ave que passa,deixa rastros
e continua a voar.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Toda ausência

Toda ausência dói,
Extrai a lama
no fundo poço cavado
dentro da alma.

Toda ausência passa.
Dorme o homem.
No sonho canta
 louvores aos céus.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Poema quebrado

Corações desafinados
se quebram na ausência
de flores e abraços.


Se perdem, se afogam
nos punhos fechados
vertendo lágrimas.


Poemas
vestem a tarde
cheia de chuva.

Lavam, levam
desejos molhados
nos ciclos do sol.

Luares mofados
escondem estrelas.

Rios afogam
meus olhos cegos
quase quebrados.

Ventos desfiam nuvens
dentro dos mares.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sobre as águas

Ai, lá vem a chuva.
Leva os homens,
os cães,
as árvores;
os ventos movem
as casas,
rolam as pedras
ladeira abaixo.

Mas deixa um sonho:
O renascimento
sobre as águas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

o Buraco



Um buraco escuro e profundo
deixa nos pés das almas
a poeira do mundo.

Silêncio.
Desmaio e caio
nos braços de Pessoa,
Bandeira e Cabral.

Aves voam a tarde,
acordam em nuvens.

Poemas fluem nas águas,
nas sombras dos passos
do poeta Raimundo.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ponteiros Parados

( Para Manoel de Barros )

No caminho das formigas,
há um poema inspirado.
Um rio escorre no lápis
entre os dedos lavados.


Sobre flores e fumaça,
uma missa celebrada:
o corpo magro, mínimo e velho,
se agasalha na fina poeira
dos ponteiros parados.

Pássaros voam entre as flores,
nuvens brancas e toalhas.
Em círculos, mesas redondas,
cadeiras e bundas quadradas.