quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quase uma canção alucinada

Fechadas,
janelas e portas guardam-me.
Fios de medo, tecem as horas, os dias.
Meu aconchego é uma camisola de lã.

Choram meus olhos.
O amor,
que estava austente,
chega.
Amanhece em mim.

Saudade vem, vai e voa.

Anoiteço...
Tenho asas...
Os sonhos revelam-se às pedras.

Em pedaços,ouço uma canção.
As mãos quebradas,
colam-se à pele fria.
Solitária,volto ao ninho.

domingo, 25 de abril de 2010

Quereres

Quero pintar as unhas
com esmalte incolor
e teus lábios,
no tom da minha cor.

Adoro rosas e vermelhos
derramados no teu céu.

Quero sentir o ar puro
nas cidades e florestas,
quando cantares o amor.

Quero lamber teu sal
e acordá-la na madrugada
para ouvir uma canção.

Concretos e abstratos,
desenho teus sonhos.
Além das horas
sou a mulher que não és
e aquela que não fui.

Quero subir montanhas
e acordar o sol.

sábado, 24 de abril de 2010

Os Meninos ( As Pombas)

Meninos grudam chicletes
nos bancos da praça,
rasgam cestos de lixo
e espalham nas calçadas.

Em casa,
imaginam figuras,
desenham gaiolas.

Nos quintais, desconfiadas,
as pombas entreolham-se.

Longe dos olhos,
sobre as pinturas,
as pombas saltam
e voam.

Quase noite...

O sol revela ninhos
na altura das árvores.
Alvas,vivas, as pombas
pousam e dormem.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sexta-feira

A sexta-feira apareceu de rosto lavado e róseo.
No ar,
espalhou cheiro de flores,
calor de afetos,
abraços demorados,
sorrisos longos e profundos.

Na cidade,
homens colhem bebês.
Renovadas,brincam as árvores
nessas horas de outono.

Essa manhã apareceu
nas vestes de Nossa senhora das Neves.
Nas torres da matriz,
sinos centenários
convidam para as orações.

Há calma no olhar dos homens
e alegria nas mãos das mulheres.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Num Piano's Bar

Reviramos a saudade
com vinho e queijo.
Embriagados, visitamos
antigas fazendas.


Apareceram:
Castro Alves,
Álvares de Azevedo
e Eugênia Câmara.
Iniciado o sarau,
entre olhares,
perguntamos:

Quem será na madrugada
a maior estrela?
Os poetas ou a lua
que enciumada,
apaga lampiões?

Trôpegos,
cantávamos ouvindo o mar.
Os poetas e os artistas,
brilham n'outros palcos.

Eu e o amigo,adormecemos,
nas areias de Atalaia.

.

Qualquer

Qualquer coisa vira madrugada a dentro.
Qualquer copo serve o vinho.

Qualquer coisa paralisa as mãos,
apaga a palidez da pele fria e úmida.

Qualquer coisa atrai os ventos,
sopra o verde das folhas
quando amanhece o outono.

Qualquer coisa faço e bebo.
Um misto de pó mágico
e água de chuva.

Qualquer coisa acorda o amor
que anda vazio e calado.

Qualquer luz ilumina cenários:
Meus personagens celebram
o beijo de Apolo e Baco.

Qualquer cena vivo
num baile de máscaras.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Homem e a Rua.

Ouvia Bach
À luz de velas.

Os cristais da casa,
expressavam a estética
do ser:
ter e não se apegar
aos objetos guardados
em cofres de chumbo
e aço.

A rua comentava:
tem ares de santo,
é um aristocrata.

Não sabiam eles,
que esse homem
ouvia os astros

e nos quintais,
cuidava de lagos
e flores.

Os olhos castos
guardavam-se.

Nas brancura dos muros,
havia máximas escritas
em prata:

Doar-se à música
e aos livros
e esperar as benesses,
doações dos céus.

sábado, 10 de abril de 2010

Vai/e/Volta

...

trabalha
e
cansa

come
e
des
cansa

dorme
e
acorda

vai
e
volta

vira
e
passa

um sonho
o mundo
o cinema
a TV.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Espelhos nos pés

O rapaz vestia-se todo de branco. Seus olhos expressavam a castidade dos jovens do final do século XIX.Educado nasboas escolasburguesas, respirava o ar dos autores franceses e a boa música. Ouvia Bach à luz de velas,lustrava os sapatos para ir às festas organizadas pelos salões de elite.
Vozes em coro,exclmavam: "Esse homem tem espelhos nos pés".
Nos salões elegantes, as mulheres sentiam sua presença, bem antes que el chegasse. desejavam apertá-lo e sentir por longos minutos, seu perfume levemente doce e delicado. As mocinhas,hoje adolescentes,tremias quando ele, timidamente as convidava para darnçar. Coladas ao seu corpo,dançava todos os ritmos: Valsas, jazz,música cubano e brasileira.
Os senhores mais velhos achavam estranho.
- Algo de errado existe nesse moço. Tão boa pinta e volta para casa,sempre sozinho.
Não sabiam eles,que em casa, o rapaz se apegava à companhia de gatos persas,cães amestrados daDinamarca e quadros na parede. Mas uma quando vinha o inverno, praparavaassalas erecebia dezenas de convidados para umanoite lírica.O ambiente ficava impregnado de atmosfera leve e espiritual.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Atibaia ( Um Rio )

Engasga-se um rio.
Aflito, passa,
e pede socorro.

Se entrega
à força dos braços
que salvam
e louvam
a alegria dos peixes.

Agônicas,
suas águas
contemplam
afônicas
o voo
das garças.


Um rio desce,
percorre
memórias.

Chora no escuro,
morre no fundo
impuro da lama.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Na Hora

Nos
sa
senhor
ora
das
flores
a dor a poesia?

Na hora II

Há um
quando
cheio
(trans)
bordo
só agonia.

Um arco de Neve

A vida é um arco de neve
e breve passa nas linhas
dos olhos e dedos.

Círios sagrados
iluminam os passos das almas
Em procissão.

No espaço naves do sol
levam nossas bagagens.
Belas palavras pronunciadas
num dia de angústias
e as certezas guardadas
para mostrá-las aos justos.

Iluminacion

Ao vento,
as rosas doam-se.

A vida flui
vai e voa.

Iluminados

pássaros olham
ensinam caminhos
de nuvens e ventos.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Para Sebastião Salgado

Nos quintais do mundo
meus olhos percorrem
sertões salgados.

Passeio na lama,
rugas no chão.

Lugares secos
clamam toques de vida.
Ganham luz nas fotos
de Sebastião Salgado.

Viagens:
Áfricas,nordestes,
Cortes de cana.
Os calos nas mãos
são sinais de ouro.

Esses homens,
correm canaviais e ruas
endereços para o nada.

Entre facas e foices,
secam as lágrimas.
Sonham vidas
em dimensões colossais.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Glória

Meu Deus, eu canto!
Ouço a voz da natureza
e o silêncio das pedras.

Glória!

Feias palavras ferem as folhas.
Fazem barulho os finais do mundo.

Salvam as florestas,
colhem as flores
num dia bom.

Fartas são as armas
sobre as mesas.
Sustentabilidades,
Progressos,
responsabilidades.
Enquanto isso,
os pés dançam
e espalham
a poeira dos séculos.

Meu Deus,eu canto!

Homens se amam,se matam,
traçam planos de guerra.

Eu canto glórias ao mar
e sei do sangue
e das rosas mortas
sufocadas no suor do homens.


Meu Deus, eu canto!

domingo, 4 de abril de 2010

Loco(motivas)

Locomotivas iluminam séculos.
Sigo o ritmo das rodas
e além dos trilhos,
vivo horizontes.

Possuo no olhar,
a fé evangélica.

Luas de Saturno
são alegorias
dos carnavais.

Há glamour no espaço
e nas cores que pintam o céu.

Xô, demônios!

Quero louvar as águas
e a presença linda
de Yemanjá e Oxum.

Sou Quirom.
Vivo eternidades
e sei que o amor
caminha nas sombras
e acende estrelas.

sábado, 3 de abril de 2010

Na Palma da Mão.

O mundo vira e gira
na palma da minha mão.

Há perturbações e revoluções
no caminho dos homens.

Há renascimentos e arte.
Há um poema de ouro
cá dentro da alma.

Conheço-me
e sei que a vida lava o azul
num mar vermelho

e passo meus dias
debaixo das sombras
dos castelos medievais.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Nas Rodas do Mundo

Afiar as facas,
lustrar as armaduras e punhais.
A vida é uma luta contínua.
Zonzos, giramos nas rodas do mundo.

Qual herança deixar para aos descendentes?
Um século sem luzes? Um pensamento torto?

Nos ares, deixo alguns poemas
e a esperança num dia-a-dia
sem sangue, fúria e fogo.

Ainda adormeço sobre rendas francesas
e sonho outonos molhados.
As tardes sorvem o sumo das folhas
e nenhuma lágrima guardo
para chorar amanhã.

Não quero condolências
quando meu corpo cumprir
a funérea missão.

Quero seguir as nuvens,
ouvindo sinfonias:
Bach, Beethoven, Mahler,
Chopin e as rosas cálidas
na voz de Cartola.

Quero sossego numa noite azul.
Deus ainda espera-me e sorri.